domingo, 5 de abril de 2009

O Estado sempre esteve presente

A matéria abaixo, publicada no Le Monde, sustenta que a reunião do G20 representa o retorno do Estado. Acreditava-se que o Estado havia perdido espaço na vida econômica mundial para o mercado financeiro. O fato é que ele nunca saiu de cena. A idéia do Estado mínimo foi válida para os países pobres e os ditos emergentes, mas não para os países ricos. A crise atual abre espaço para as outras visões de mundo até então tímidas demais.


"LONGA VIDA AO G20!
Le Monde

O G20 passou por seu exame de aprovação. Não era garantido. Entre as economias do norte e das potências emergentes do Sul, não faltavam motivos de conflito, de querela e de disputa: a reunião de Londres, na quinta-feira (2), poderia ter resultado em cacofonia. Mas o interesse comum por uma ação coordenada para tentar frear a pior crise econômica e financeira depois de 1945 prevaleceu.Pode-se dizer que há um pouco de marketing, ou seja, de ostentação, em sua embalagem final. Isso sem dúvida é verdade. Não sabemos muito qual matemática "browniana" o primeiro-ministro britânico usou para adicionar números que não têm nada a ver entre si para anunciar, como um grito de vitória, que o G20 destinará 1,1 trilhão de dólares à retomada econômica. Mas tudo bem se isso for capaz de restaurar um pouco de um elemento que será fundamental para sair da crise: a confiança.O que então aconteceu em Londres? O equivalente ao retorno de um pouco de Estado na cena internacional. Dito de outra forma, o G20 esboçou as novas regras do capitalismo mundial. Vivíamos num momento de globalização financeira totalmente desregulamentada, cujo curso selvagem desembocou na crise atual. A reunião de Londres - que se deveu em grande parte à insistência de Nicolas Sarkozy, o primeiro a tê-la convocado, em setembro de 2008 - introduziu a regulamentação, ou seja, a prudência, nas finanças mundiais. Ela conferiu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) um novo papel de fiscalização das práticas econômicas e financeiras dos Estados - caberá a ele acionar o sinal de alarme quando o comportamento de algum dos países ameaçar todo do sistema.E aconteceu mais do que isso. A reunião em Londres destruiu o G8, a cúpula anual americana-nipo-europeia que tinha intenção de administrar parte dos negócios do planeta, uma vez que ela não era nem um pouco representativa do mundo de hoje. O G20 é, ele sim, o espelho justo da repartição de poder econômico nesse começo de século 20: com a ascensão poderosa, cada dia mais evidente, dos gigantes do Sul que incluem a China, a Índia e o Brasil, entre outros.Ainda que exclua a África, o G20 é mais representativo que o Conselho de Segurança da ONU, cuja composição reflete o equilíbrio resultante da 2ª Guerra Mundial. Mas o G20 não é uma instituição. É uma reunião informal, sustentada apenas pela boa vontade de seus participantes. Se quisermos um embrião de governança mundial - imposta pela globalização - é necessário institucionalizar o G20, começando por dar a ele um secretariado permanente."